Um trabalho silencioso, mas de grande impacto social, vem sendo realizado em Cuiabá sob a coordenação do Grêmio Recreativo e Esportivo do 10º Batalhão da Polícia Militar. O chamado Projeto Xás Crianças que tem dentro o também conhecido projeto Black Belt de caratê , que reúne diversas ações esportivas, culturais e educativas, já alcançou cerca de 989 pessoas entre 2022 e 2025. Agora, a trajetória dessas atividades será retratada em um documentário produzido pelo Instituto INCAMTEC, com o objetivo de eternizar e difundir a experiência como referência nacional.

As atividades se concentram nas Bases Comunitárias dos bairros Araés e Ribeirão do Lipa, com foco em crianças, jovens e idosos. Entre os projetos desenvolvidos estão:
• Karatê Black Belt, com 150 participantes;
• Capoeira Aruandê, com 110 praticantes;
• Escolinhas de futebol e futsal, que atendem cerca de 415 crianças e adolescentes;
• Ginástica para a Melhor Idade, com 120 idosos;
• Dança e atividades recreativas, com quase 200 pessoas;
• Projeto Xás Crianças, que promove palestras educativas e atividades culturais.
Prevenção primária: a semente do bem

O coordenador do projeto, sargento Jeferson Marcos Piffer, enfatiza que o objetivo não é apenas formar atletas, mas cidadãos conscientes. “Nosso trabalho é plantar a semente do bem. É a prevenção primária. Hoje nós cuidamos para que no futuro tenhamos adultos mais responsáveis, longe da criminalidade. Muitas vezes, o ‘não’ ensina mais que a vitória imediata”, afirmou.
Ele relembra casos de superação, como o do jovem Enzo, portador de paralisia cerebral, que chegou ao projeto com limitações motoras e hoje já pratica futebol com desenvoltura. Outro exemplo é o de famílias ligadas a facções criminosas que encontraram no projeto uma alternativa para seus filhos. “Eles nos deram plena liberdade para educar essas crianças. Isso mostra a força do projeto em mudar destinos”, destacou Piffer.

Um diferencial importante é a preocupação com a segurança dos alunos. As meninas que participam das escolinhas são levadas em casa após os treinos noturnos por um micro-ônibus da Polícia Militar, medida que fortalece a confiança das famílias e garante a continuidade das atividades.

O projeto também reflete a diversidade de Cuiabá. Entre os quase mil beneficiados, há alunos venezuelanos, que encontraram nas atividades esportivas e culturais um espaço de integração e acolhimento.
Cultura e comunidade no centro da transformação

Mais do que esporte, a iniciativa resgata a identidade cultural cuiabana com oficinas de siriri, danças regionais e atividades artísticas. Para Piffer, essa é a “cereja do bolo”:

“Não basta ter uma quadra nova ou um campo limpo. O aluno precisa entender o valor de cuidar do espaço, respeitar as diferenças e se conectar com suas raízes culturais. Isso forma caráter e fortalece a comunidade.”

A base de sustentação vem do trabalho voluntário de professores e apoiadores. “Todos são voluntários. Fazem porque amam o que fazem. Esse amor é o que mantém viva a chama do projeto”, explicou.
Apoio do Instituto INCAMTEC

Parceiro na iniciativa, o Instituto INCAMTEC decidiu registrar a história em um documentário. Para o representante da instituição, Edmilson Maciel, a experiência precisa ganhar o país:
“Esse projeto tem resultado social, tem transformação real. O documentário será como um livro em filme, que poderá ser compartilhado em qualquer lugar do Brasil como referência. Acredito que o Mato Grosso está na vanguarda e este exemplo precisa ser conhecido.”
Edmilson destacou ainda a importância de valorizar tanto as crianças quanto os idosos envolvidos: “O social é o que mais me encanta. As aulas para a terceira idade são um exemplo belíssimo de acolhimento e integração. Isso é imbatível.”
Desafios e perspectivas

Apesar do sucesso, o projeto enfrenta dificuldades para garantir recursos financeiros. As ações são mantidas por meio de parcerias, doações e apoio voluntário. Ainda assim, os resultados são expressivos: alunos já conquistaram títulos em competições nacionais de karatê e capoeira, além de participações em festivais culturais.

O coordenador Jeferson Piffer projeta que a metodologia possa ser replicada em outros municípios. “Dos 142 municípios de Mato Grosso, todos têm a presença da Polícia Militar. Se conseguirmos levar essa receita para cada núcleo, podemos transformar realidades em todo o Estado”, disse.

O documentário do Instituto INCAMTEC sobre o Projeto Black Belt está em fase de produção e deve reunir histórias de superação, depoimentos de voluntários e imagens do impacto social nas comunidades atendidas. A expectativa é de que a obra se torne um instrumento de valorização e multiplicação dessa experiência que une polícia, sociedade civil e cultura em favor da cidadania.
Por Luiz Henrique Menezes